segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

[OFF] Revisão.



''A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.''
André Maurois

Olá, pessoas. Depois dessa citação de Maurois eu lanço essas perguntas: O que é um bom livro? O que, além do clichê da história que te prende, torna qualquer livro um diálogo? Fluidez de história, verossimilhança ou ação? O que mais?
Meus caros, para mim, revisão é um fator importantíssimo.

Qual será o valor de uma revisão? Será que é tão valiosa para que eu venha nesse humilde blog colocar tal discussão em pauta? O valor de uma revisão é inestimável para o leitor e para a editora. Para o primeiro, pelo óbvio motivo da compreensão total do texto. Afinal, se a revisão tiver erros grosseiros, o leitor terá dificuldades para acompanhar e compreender a história. Já para as editoras é óbvio que um bom revisor traz para o grupo editorial uma imagem de seriedade, trabalho árduo e boa organização. Ou seja, revisão é um dos principais pontos que determinam uma boa leitura.
Tenho 19 anos, uma lista razoável de livros lidos e para infelicidade de alguns, sou filha de professora de Língua Portuguesa. Ou seja, a vida inteira eu fui influenciada a dominar escrita e todas aquelas regras infames do nosso idioma. Acabei tomando gosto pela coisa e hoje, graças à minha mãe, tenho colhido bons louros por isso.
Com o passar dos anos, as leituras tomaram novos horizontes. Novos autores, editoras, inovações e blá blá blá. A cada dia que passa, vejo autores mais jovens escrevendo livros e os publicando, sejam as publicações independentes ou não.
Um caso que muito me revoltou nos últimos tempos foi de um livro de publicação independente com contratação de um determinado revisor que tem contato frequente com revisão. Apesar da ''experiência'' do contratado,  o livro tem erros GROSSEIROS de concordância, regência e até no emprego de tempos verbais.
Vejam alguns exemplos.

Erro de concordância:


''Tais palavras não poderiam soar tão significativas quanto soou na mente de Gabriel*.''

* O nome da personagem foi alterado a pedido do autor para preservação da imagem do livro.

Agora vamos à explicação teórica para o erro que, vocês já devem ter percebido, está nessa frase. ''Palavras'' é o sujeito da frase, sendo assim, toda a ação frasal que se refere ao sujeito deve concordar com ele. ''Palavras'' está plural, logo, a concordância deve se apresentar no plural. Forma correta:

''Tais palavras não poderiam soar tão significativas quanto soaram na mente de Gabriel.''


Erro de Regência Verbal:

(A regência verbal estuda a relação de dependência que se estabelece entre os verbos e seus complementos. Na realidade o que se estuda na regência verbal é se o verbo é transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto ou intransitivo e qual a preposição relacionada com ele, se for necessária.)


''- Onde estou? Boa pergunta. Onde estou?- pausou - Eu conheci uma mulher... Viemos num motel. E Deus, onde ela está?! - finalmente havia acordado de verdade. - Que espelunca!''

Queridos, o verbo vir é um verbo de transitividade indireta, ou seja, exige o uso da preposição. Para começo de conversa, apesar de a frase ser uma fala, o próprio personagem se coloca como alguém culto. Dessa forma, subentende-se que não cometeria erros na fala. ''Num'' não é uma preposição. É apenas a contração da preposição ''em'' com o artigo indefinido ''um''. Logo, existe o erro. Forma correta:

''- Onde estou? Boa pergunta. Onde estou?- pausou - Eu conheci uma mulher... Viemos a um motel. E Deus, onde ela está?! - finalmente havia acordado de verdade. - Que espelunca!''

Sem falar na má colocação das vírgulas para a separação da palavra ''Deus'', já que o personagem não está conversando com o próprio, mas sim usando o nome como uma exclamação.


Emprego de tempos verbais:

''Saiu da sala, fechando a porta aliviada. Lá fora, vários funcionários a observavam, curiosos, perguntando-se o que ela foi fazer ali, por que precisava falar justamente com o chefe e principalmente, o que ele teria dito para verem-na sair sorridente da sala.''

Existem vários tempos verbais como presente, pretérito perfeito e futuro do pretérito. Cada um deles tem uma 'função' para ajudar a coesão temporal e textual numa história. O pretérito mais-que-perfeito representa o passado dentro de um passado pré-existente. Compreendem? Nessa narrativa, apresentada no passado, a ação de ''precisar falar com o chefe e blá blá blá'' é um passado dentro de outro passado. Sendo assim, a forma correta seria:

''Saiu da sala, fechando a porta aliviada. Lá fora, vários funcionários a observavam, curiosos, perguntando-se o que ela fora ali, por que precisara falar justamente com o chefe e principalmente, o que ele tivera dito para verem-na sair sorridente da sala. ''

Outro erro, que não de uso de tempos verbais é o trecho ''fechando a porta aliviada''. Quem estava aliviada era a personagem e não a porta. Nessa escrita o adjetivo aliviada se refere à porta. Para que o parágrafo tivesse melhor coerência, eu o digitaria dessa forma:

 ''Saiu da sala fechando a porta. Estava aliviada. Lá fora, vários funcionários a observavam, curiosos, perguntando-se o que ela fora fazer ali. Por que precisara falar justamente com o chefe? E principalmente, o que ele tivera dito para verem-na sair sorridente da sala. ''

Esses são alguns dos erros que eu encontrei em apenas um livro. Há outro, ainda pior, que eu levaria alguns parágrafos para explicar.

Erros de digitação:

Infelizmente não consigo achar a página exata do livro agora. Mas afirmo e prometo mostrar para qualquer um que quiser ver. No livro ''A Hospedeira'' de Stephenie Meyer a expressão ''Cinto de segurança'' está digitada duas vezes seguidas como ''Sinto de segurança''.
Sinto é o verbo sentir em uma forma conjugada. Pelo amor de Deus! Será que o tradutor não percebeu isso? Será que ninguém viu que milhares de livros foram impressos com esse erro?

Em um outro livro nacional o próprio autor escreve o nome do mesmo personagem de duas formas diferentes com a distância de duas páginas. Nesse livro houve o trabalho de dois revisores, um da editora e outro contratado pelo próprio autor. O que se passa com essas pessoas?

Acho que algo muito errado está acontecendo. Eu leio livros de autores antigos com Clarice Lispector e Pedro Bandeira e não encontro uma única vírgula fora de lugar. Autores e revisores, trabalhar no mercado editorial não é diversão e sim, como eu disse, trabalho. Para fazer-se um bom trabalho são necessários estudos e muita dedicação! Saber escrever é fundamental, seja você um autor de romances ou um simples digitador. Vamos abrir nossos olhos para esse problema. A pobreza do conhecimento é algo que me entristece. Saber o uso correto da sua língua é o mínimo que você pode fazer antes de se aventurar no mercado literário.

Fica o meu ''cutucãozinho'' (meu momento facebook) para vocês leitores, autores e revisores.
Grande beijo.


Ray Miccolis

1 comentários:

Anônimo disse...

Nooossa, que engraçado.
Logo a Stephennie que já escreveu grandes livros...
uashuash'
bjoos, cartas para ficção.

 

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